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Museu do Índio - Projetos

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Pesquisa Escolar

O Museu do Índio e sua contribuição para a Lei 11.645

Renata Curcio Valente
Antropóloga e Economista
SEESP/CODIC/Museu do Índio

Muitos professores do ensino fundamental e médio, diante do desafio de trabalhar sobre as temáticas indígenas em sala de aula, desconhecem as inúmeras possibilidades que os acervos do Museu do Índio representam.

São cerca de 19 mil objetos etnográficos, 15 mil publicações nacionais e estrangeiras, especializadas em etnologia e áreas afins, além de fotografias, vídeos e gravações de povos indígenas de todo o Brasil, muitas delas produzidas pelos próprios indígenas. A pergunta que pode surgir seria então, por onde começar? Como fazer? Ao refletirmos sobre as experiências de um projeto de prática de formação continuada de professores, desenvolvido em 2010 pelo Museu do Índio, em parceria com a Secretaria de Educação do Estado do Rio de Janeiro (SEEDUC), relacionada à publicação da Lei 11.645, de 2008, pretendemos contribuir para estímular novas parcerias com professores e estudantes, criando um espaço de diálogo e parceria continuada para investigação e pesquisa escolar.
O projeto Povos Indígenas: Conhecer para Valorizar teve como objetivo enfrentar os desafios colocados pela publicação da Lei 11.645/08, por meio de atividades no Museu do Índio orientadas para professores da rede pública estadual. Formulamos este projeto a partir da demanda e do interesse de professores da rede pública estadual, apresentadas pela Coordenação de Diversidade e Inclusão Educacional da SEEDUC, que se consolidou, a partir de seu acolhimento pela equipe da Coordenação de Divulgação Científica do Museu do Índio (CODIC) do Museu do Índio/FUNAI, na construção conjunta de uma proposta de ação que veio a se concretizar em 2010 no projeto Povos Indígenas: Conhecer Para Valorizar.
A Lei 11.645 aborda o tema da diversidade e da etnicidade na educação básica e fundamental, distinguindo-se de outras políticas orientadas para segmentos sociais etnicamente diferenciados. Não se propõe a definir políticas educacionais para os povos indígenas ou afrobrasileiros, mas torna obrigatória a inclusão do ensino da história e da cultura afro-brasileira e indígena nos currículos do ensino fundamental e médio, da rede pública e privada. Propõe uma abordagem transversal das temáticas, na medida em que define que o conteúdo seja trabalhado "no âmbito de todo o currículo escolar, em especial nas áreas de educação artística e de literatura e história brasileiras".
Estas questões sinalizam para os desafios que esta lei nos coloca a todos, professores e profissionais que trabalham em museus etnográficos, instituições que atuam no campo da memória e do patrimônio cultural dos povos indígenas. A publicação da lei 11.645 e sua aplicação em sala de aula tem exigido um comprometimento que vai além dos próprios esforços dos professores e exige uma ação conjunta em várias instâncias de decisão. São aspectos que estão ligados à falta de recursos didáticos disponíveis, à falta de atualização dos livros didáticos e à própria formação dos professores. Os recursos didáticos disponíveis para o trabalho com a faixa etária escolar de ensino fundamental e médio ainda são defasados e pouco eficazes e a falta de atualização nas formações dos professores prejudicam seu bom desempenho em relação a mudanças recentes, o que define um quadro, entre os professores, alunos e pais de alunos no meio escolar onde persistem muitas ideias preconceituosas em relação aos povos indígenas.
A proposta do projeto Povos Indígenas: Conhecer Para Valorizar começou ainda em 2009, quando a SEEDUC apresentou ao Museu do Índio o seu interesse no desenvolvimento de cursos de formação sobre a temática indígena para os professores da rede. Mobilizados por este envolvimento dos professores, consolidamos a parceria em 2010, elaboramos uma proposta que foi orientada para a capacitação de 180 professores da rede pública de todo o Estado do Rio de Janeiro, alcançando os municípios que iam do sul do Estado, como Angra dos Reis, até Pádua, Nova Friburgo, Duque de Caxias e Cabo Frio, chegando até o norte, em Campos dos Goitacazes. Elaboramos diferentes formatos de atividades para reflexão, formação, debate e visitação a exposições, destinado à formação continuada dos professores que participaram de dois cursos: o Dimensões das Culturas Indígenas e Conhecendo os Povos Indígenas: História, Cultura e Protagonismo Indígena, onde abordamos aspectos da lei 11.645/08, aspectos gerais das relações etnico-raciais no Brasil, a história indígena e o indigenismo no Brasil e a presença dos Guarani Mbya no Estado do Rio de Janeiro, entre outros. Foi realizado também uma atividade de visitação guiada às exposições e às reservas técnicas do Museu do Índio e de debate, à qual chamamos "Um dia no Museu". A partir do trabalho de capacitação dos professores, por meio de cursos, palestras e visitas, cada um destes professores retornou ao Museu do Índio com seus alunos para visitação. Tivemos assim, em um período de apenas seis meses, um público de 7.200 alunos visitando as instalações do museu, formado, em sua maioria por um segmento pouco assíduo no museu, caracterizado por jovens do 2º segmento do fundamental até ensino médio.

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Curso de formação de professores em 2010 no Museu do Índio.


Além destas atividades, trabalhamos também na produção de duas ferramentas paradidáticas destinada a toda a rede da SEEDUC, visando o debate sobre os temas relacionados aos povos indígenas em sala de aula. Estes materiais foram, além de um documentário de média metragem, em formato de DVD, chamado Povos Indígenas: Conhecer para Valorizar, com uma tiragem de 4000 exemplares, a publicação de um caderno de textos (no prelo) e a publicação de um sítio na internet (disponível de 2010 até 2013), onde eram veiculadas informações sobre o projeto e sobre os povos indígenas.
Este foi um projeto inovador e que contou com o empenho e dedicação por mais de três anos, entre a elaboração, execução e finalização dos produtos, das equipes das duas instituições envolvidas. Esperamos que as ideias apresentadas sejam encaradas como um estímulo para novas experiências e práticas que explorem as múltiplas possibilidades que os acervos e o espaço do Museu do Índio representam para o campo da educação.

23/09/2016