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Pesquisa Escolar

Mostra de Cinema Xavante: identidade indígena e a sétima arte

Renata Curcio Valente
Pesquisadora do Serviço de Estudos e Pesquisas/CODIC/MI

Para aqueles que acham que o cinema é uma arte exclusiva aos intelectuais ou programa de entretenimento para jovens urbanos, o povo indígena Xavante (autodenominados A´uwe), que vive atualmente em terras indígenas no leste do estado de Mato Grosso, mostra que a sétima arte é para todos. Compreendem a sétima arte em seu amplo sentido, como um discurso sobre história e memória e como linguagem e imaginário na construção de cenários futuros.

Foto: acervo FUNAIFoto: acervo FUNAI

A produção em linguagem cinematográfica ou audiovisual vem sendo desenvolvida pelos Xavante desde os anos 1990, sendo Divino Tserewahu[1] e Caimi Waiassé[2] alguns dos precursores deste movimento. Com o apoio inicial da organização Vídeo nas Aldeias,[3] a produção audiovisual dos Xavante desde então vem crescendo e agregando novos jovens ao grupo de realizadores, e já conta com um acervo representativo de filmes.

            Em 2015, o Museu do Índio selecionou o projeto Cinema nas Aldeias Xavante: ver, ouvir e debater para o Programa de Apoio aos Projetos Culturais dos Povos Indígenas 2015. Entre julho e outubro, o projeto realizou a exibição de documentários com temática indígena em doze aldeias nas Terras Indígenas Parabubure, em Campinápolis e Ubawawe, em Santo Antônio do Leste, no estado de Mato Grosso.[4] A exibição contou com a criatividade dos organizadores e dos indígenas para montar um cinema a céu aberto no pátio das aldeias: um grande lençol branco serviu como telão para projetação dos filmes, e as esteiras de palha no chão e cadeiras escolares acomodavam a platéia, muito curiosa. Foram exibidos os filmes "PiõHöimanazé – A mulher Xavante em sua arte" de Cristina Flória, "Índio Cidadão" de Rodrigo Siqueira, "Vale dos Esquecidos" de Maria Raduan, "Ödzé Nhimi Wamnari" de Aquilino Tsi'rui'a, "Uma Casa, Uma Vida" de Raiz das Imagens e "A Grande Caçada" de Adalbert Heidi[5], todos sobre o povo Xavante. Após a exibição dos filmes, foi estimulado o debate entre os indígenas e promovidas atividades relacionadas aos temas tratados nos filmes. Para ampliar a divulgação da produção audiovisual dos Xavante, foram produzidas 500 caixas com DVDs, com sete filmes, para as escolas indígenas Xavante e instituições parceiras, como secretarias municipais de educação, associações indígenas, ONGs indigenistas e FUNAI.

            Animados com o sucesso de público e com a repercussão da mostra nas aldeias, os Xavante apresentaram a proposta da Mostra de Cinema Xavante à Coordenação Regional Xavante, para o Programa de Apoio a Projetos Culturais 2016, visando a apresentação em uma cidade, e não mais nas aldeias. A Mostra de Cinema Xavante ocorrerá de 30 de novembro a 03 de dezembro de 2016, em Barra do Garças, em Mato Grosso, no Auditório do Sintep[6], divulgando a produção audiovisual indígena junto à população das cidades da região do Araguaia-Xingu.

            A programação está bastante variada, com apresentação de sete filmes, além de mostra escolar de curtas, debates com os realizadores e oficinas de produção audiovisual, visando à capacitação e formação de vinte jovens Xavante na prática audiovisual.

            Na tarde do primeiro dia, quarta-feira, 30 de novembro, será realizada a primeira oficina de produção audiovisual. À noite, na abertura oficial do evento, será feita a apresentação de três filmes, com o debate com os realizadores após os filmes. Nos outros dias, temos a seguinte sequência de atividades que vão agitar Barra do Garças: na parte da manhã e tarde, temos oficinas de capacitação, seguida de mostra de curtas para estudantes do ensino médio da rede pública de Barra do Garças. À noite, serão realizadas as exibições dos filmes e debates com realizadores. No sábado de manhã, será feita uma troca de experiências com a apresentação de projetos audiovisuais, seja em andamento ou finalizados, entre realizadores audiovisuais amadores ou profissionais Xavante e de outros povos e parceiros.       

            A estimativa de público em todas as atividades é de 150 pessoas, mas acreditamos que os resultados podem superar esta previsão, já que a divulgação do evento está sendo feita por meio de cartazes espalhados em Barra do Garças, nas mídias digitais, em um sítio na Internet, no whatsapp, e em eventos nas redes sociais.

            Nós do Museu do Índio estamos certos que o apoio continuado a uma atividade cultural, como estamos fazendo por meio do Programa de Apoio aos Projetos Culturais dos Povos Indígenas, terá um efeito sobre as gerações atuais e futuras na formação e produção audiovisual, mas sobretudo no que se refere à valorização cultural deste povo. O cinema como arte e atividade lúdica, além de ser um veículo de informação e aprendizado, é também uma arte que cria uma atmosfera de admiração e deleite estético, pelos usos da fotografia, da luz e da música associados ao roteiro, que contribui para a admiração do “outro”. O cinema pode ser, assim, um importante elemento de transformação para a valorização de uma cultura pouco conhecida e, sobretudo, para o respeito e quebra de preconceitos em relação aos povos indígenas.

 

Notas:

[1] Tserewahú, Divino. Hepari Idub’rada, Obrigado Irmão, 1998, 17 min, cor, port.  Ver também Tserewahú, Divino Wapté Mnhõnõ, Iniciação do Jovem Xavante, 1999, 56 min., cor, port.

[2] Waiassé, C. Tem que ser curioso, 1997, 16 min, cor, port.

[3] Ver em: http://www.videonasaldeias.org.br/2009/index.php.

[4] Duas matérias foram publicadas no site da FUNAI. Ver em: "Cinema nas Aldeias Xavante leva filmes, lazer e reflexão para a Terra Indígena Parabubure (MT)”, publicada em 2 de outubro de 2015,   Disponível em: http://www.funai.gov.br/index.php/comunicacao/noticias/3460-cinema-nas-aldeias-xavante-leva-filmes-lazer-e-reflexao-para-a-terra-indigena-parabubure-mt e a outra matéria foi publicada em 24/11/2015 http://www.funai.gov.br/index.php/comunicacao/noticias/3546-mandsafhjfdd?highlight=WyJ4YXZhbnRlIl0=

[5] Adalbert Heide e Divino Tserewahu são parte do filme documentário “O mestre e o Divino”, direção de Tiago Campos, que acabou de ser lançado em 17 de novembro de 2016. O filme, que trata da relação entre o missionário e os Xavante, especialmente a formação do Divino como cineasta, tem duração de 1h 23min. Produção do Vídeo nas Aldeias.

[6] Sintep. Rua Goiás, 253, Centro, Barra do Garças, MT.