Sheila Maria Guimarães de Sá,
Pesquisadora SEESP/CODIC/MI,
Bom dia... Hoje, graças a Deus, nós índios FULNI-Ô, estamos começando mais uma temporada de retiro religioso, com a chegada de mais uma etapa onde ficamos aldeados, um pouco longe da convivência com os brancos e um muito mais perto da convivência com Deus. Neste período estaremos sempre em oração, pedindo ao nosso Grande Mestre, a união, a sabedoria, o entendimento de toda a humanidade. Portanto amigos tenham certeza que neste período estarei sempre em oração por vocês, pela paz do mundo e pelo bem estar de todos. Um abraço grande. (Almir Torres, Fulni-ô, postado no Facebook em 04/09/2016)
No caminho para a Aldeia Ouricuri (Águas Belas-PE)
Os Fulni-ô vivem na Terra Indígena Fulni-ô, onde está instalado o município de Águas Belas, que dista aproximadamente 310 km de Recife (PE) e 95 km da cidade de Garanhuns, e são hoje aproximadamente 7 mil pessoas O município de Águas Belas está compreendido no chamado polígono das secas.
A vida cotidiana dos Fulni-ô transcorre em três aldeias; Fulni-ô, Ouricuri e Xixiaklá. Sendo principalmente em duas delas: Uma é a Aldeia Ouricuri, o lugar sagrado do ritual do Ouricuri, onde se estabelecem nos meses de setembro, outubro e novembro. A outra (Fulni-ô) se localiza junto à cidade de Águas Belas e é conhecida como a Aldeia Sede, ou Aldeia do Posto. É nesta aldeia que se encontram as instalações do antigo Posto Indígena da Fundação Nacional do Índio – FUNAI e as escolas. É onde vive a maioria da população nos demais meses do ano.
Nas últimas semanas do mês de agosto, começam os preparativos para a mudança da Aldeia do Posto (aldeia urbana), para a aldeia onde se realizarão os rituais, a Aldeia Ouricuri, que dista aprox. 6 km da Aldeia do Posto.
O Ouricuri é o ritual mais importante dos Fulni-ô, caracterizando-se pelo momento de reza e oração pelo bem de todos, de acordo com os indígenas. Em toda a sua história, os índios Fulni-ô, sempre preservaram a sua cultura, e a têm como elemento identitário de seu povo. Durante a primeira semana todos os Fulni-ô se concentram na Aldeia Ouricuri, mesmo os que não podem permanecer ali durante todo o ritual, que é restrito somente aos iniciados. É norma entre os Fulni-ô não falar sobre o ritual do Ouricuri. Contam os mais velhos que aqueles que desrespeitaram essa norma tiveram uma morte estranha. Ao que tudo indica, essa é a maneira de evitar a quebra do sigilo sobre o ritual e conservar o mistério. Sabe-se que durante o ritual, os jovens índios Fulni-ô, do sexo masculino, são socializados nas práticas do Ouricuri. Devido ao sigilo, pouco se sabe sobre esse ritual, pois somente parte dele é de domínio público.
Entre os principais aspectos culturais podemos ressaltar também a língua yaathe que é preferencialmente falada durante todo o período do retiro. Os Fulni-ô são bilíngües.
Outra importante atividade cultural realizada pelo povo Fulni-ô diz respeito à confecção de artesanatos, tanto para uso próprio quanto para venda. Durante a realização do ritual do Ouricuri é intensificada a prática da confecção do artesanato, pois o período é propício para a colheita e manuseamento da palha do ouricuri. O retiro propicia também o recolhimento e a troca de saberes ancestrais entre o povo Fulni-ô.
A língua, o parentesco, os rituais e a religião constituem elementos fundamentais para a memória cultural e a identidade dos Fulni-ô. O território é também suporte da identidade étnica e meio de produção e reprodução biológica e social. É o lugar de onde retiram seus principais recursos econômicos e praticam suas atividades rituais.
O Museu do Índio tem sob sua guarda 47 itens da cultura material Fulni-ô. São 39 artefatos confeccionados na arte dos trançados, 02 itens de etnobotânica e 05 adornos plumários que podem ser acessados no Acervo Museológico no site <http://antigo.museudoindio.gov.br/pesquisa/acervo-online>
Publicado em 15/09/2016