Ao tomarmos como exemplo a representação no índio na televisão brasileira, assistimos retratos caricatos e estereotipados, quase sempre, noticiados em situações de violência, em matérias descontextualizadas, retratadas com discriminação, relacionando os índios ao atraso, à preguiça, à violência e à selvageria...
Anna Maria Ribeiro Costa
Etnógrafa, pesquisadora do Centro Cultural Ikuiapá/MI (Cuiabá-MS)
Em Londres, em 1926, foi dado a conhecer a um grupo de cientistas, em avant premier, o primeiro sistema de televisão. A data histórica ganhou atenção do Doodle, que usou o desenho da "caixa mágica", a TV da época. Foi o engenheiro escocês John Logie Baird (1888-1946) quem construiu o primeiro aparelho televisivo com imagem em movimento. Depois de Baird, outros cientistas aprimoraram a "caixa-mágica".
Dúvidas não pairam quanto ao rápido avanço da tecnologia percorrida pela televisão desde sua invenção: LED, USB In, DTV Builtin, Invisible Screen (a tela só aparece depois de ligada), Touch Interface (com todas as partes sensíveis ao toque), Ultra HD, OLED (com tela curva) e a TV dobrável. Contudo, o que se pode dizer da programação ofertada pela televisão, especialmente a brasileira, de canais abertos? (Imagem: Luis Carlos Lopes 2006)
Controvérsias existem quanto à televisão. Pierre Bourdieu, por exemplo, fez um contundente alerta aos perigos existentes nas imagens e nos discursos exibidos na televisão para mecanismos de censura que ameaçam as esferas democrática e política. O sociólogo francês despendeu forças "para que esse extraordinário instrumento democrático não se convertesse em instrumento de opressão simbólica".
Ao tomarmos como exemplo a representação no índio na televisão brasileira, assistimos retratos caricatos e estereotipados, quase sempre, noticiados em situações de violência, em matérias descontextualizadas, retratadas com discriminação, relacionando os índios ao atraso, à preguiça, à violência e à selvageria. Que índio é esse que aparece na TV brasileira? Indagou Cristina de Jesus Botelho Brandão em seu livro "A cena do dia do índio na TV" (Museu do Índio, 2010).
O fenômeno televisivo encanta cada vez mais: o Censo 2010 informou que a televisão está em mais de 95% lares brasileiros. Ao invés de divertir e instruir com responsabilidade, resume-se em uma "caixa" que deixou de ser "mágica" para ocupar o lugar da banalização, quando expectadores menos politizados caem nas armadilhas perversas da ilusão em sua forma populista, contribuindo para aumentar receios xenófobos ou manter a ordem estabelecida.
Ao completar 90 anos, a televisão brasileira precisa mudar de canal. No muro da Junta Comercial, em plena Avenida Rubens de Mendonça, lê-se: "Televisão = alienação".
Publicado no Jornal Circuito Mato Grosso Ano XI Ed. 569 - 4 a 10/02/2016 (http://circuitomt.com.br/flip/569/#14/z)