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Museu do Índio - Projetos

Pesquisa Escolar

Cestaria

Segundo o Dicionário do Artesanato Indígena de Berta G. Ribeiro, cestaria é o conjunto de objetos - cestos-recipientes, cestos-coadores, cestos-cargueiros, armadilhas de pesca e outros -, obtidos pelo trançado de elementos vegetais flexíveis ou semi-rígidos usados para transporte de carga, armazenagem, receptáculo, tamis ou coador. Variam em tamanho, forma, decoração, técnica de manufatura, mas obedecem basicamente às exigências ditadas por sua funcionalidade.

As sociedades indígenas no Brasil são detentoras das mais variadas técnicas de confecção de trançados, utilizando-se delas para a confecção de cestos, que estão entre os objetos mais usados, pois estão associados a vários fins.
A cestaria produzida e utilizada por uma determinada sociedade indígena está associada à sua cultura, principal característica humana.
A cultura de um povo é como um código simbólico compartilhado por todos os homens, mulheres e crianças do mesmo grupo social. É através da cultura que todas as pessoas atribuem significado ao mundo e às suas vidas, pensam suas experiências diárias e projetam seu futuro. É, portanto, um código dinâmico que se transforma ao longo do tempo e através do espaço, dando sentido à própria vida, do nascimento até a morte, de todos os membros de uma mesma sociedade.
A cestaria diz respeito ao conhecimento tecnológico, à adaptação ecológica e à cosmologia, forma de concepção do mundo daquelas sociedades. O conjunto de objetos incorporados à vivência de uma determinada sociedade indígena expressa concretamente significados e concepções daquela sociedade, bem como a representa e a identifica. Enquanto arte, em cada peça produzida existe também uma preocupação estética, identificando o artesão que a produziu e aquela sociedade da qual ela é cultura material.
Para uso e conforto doméstico, podem-se citar os cestos-coadores, que se destinam a filtrar líquidos; os cestos-tamises, que se destinam a peneirar a farinha e os cestos-recipientes, que se destinam a receber um conteúdo sólido ou armazená-lo, sendo também utilizados para a caça e a pesca, para o processamento da mandioca, para o transporte e para a guarda de objetos rituais, mágicos e lúdicos.
Os cestos cargueiros, como diz o nome, destinados ao transporte de cargas, apresentam uma alça para pendurar na testa e têm o formato paneiriforme, com base retangular e borda redonda, sendo conhecido pelo nome de aturá. Também são muito utilizados os cestos- cargueiros de três lados, jamaxim, que dispõem de duas alças para carregar às costas, tipo mochila. Em geral, esse cesto suporta até dez quilos de mandioca.
Em algumas sociedades indígenas, a confecção dos cestos é tarefa, exclusivamente, masculina e sua utilização, essencialmente, feminina. Em outras, sua execução e utilização são tarefa de ambos os sexos, como entre os Guarani que vivem em Bracuí, município de Angra dos Reis no Rio de Janeiro. Os cestos-recipientes Guarani são confeccionados de lasca de taquara previamente pintada, em trama cerrada, apresentando desenhos geométricos representativos de losangos. Em geral, apresentam as cores verde, rosa, roxo, vermelho, amarelo e azul e possuem tampa. A venda desse tipo de artesanato, no acostamento da Estrada Rio-Santos, é uma importante fonte de renda para a sobrevivência das famílias Guarani.
Para os Wayana e Apalaí, que vivem no norte do Pará, na região do Tumucumaque, são somente os homens que, na divisão social e sexual do trabalho, devem confeccionar os cestos feitos de fasquias do arbusto arumã. Cabendo às mulheres sua utilização nas tarefas domésticas, na colheita e transporte de alimentos da roça para a aldeia e na pesca.
O cesto- recipiente de uso mais comum entre as mulheres wayana é denominado poraxi e serve para guardar algodão, miçangas, novelos, agulhas, tesouras e objetos diversos. Somente os homens, e de forma estritamente individual, utilizam um cesto comprido com alça de algodão e tampa encaixante denominado pakará. É feito de folha de palmeira e se destina a armazenar pequenas facas, algodão, remédios, miçangas, agulhas , penas de mutum para flechas e diversos objetos do universo masculino. Segundo a tradição Wayana, quando um artesão morre, todos os seus pertences devem ser jogados fora, queimados ou enterrados com ele. O pakará é o único bem que um filho pode herdar de seu pai morto.
Bibliografia:
LARAIA, Roque de Barros
1986 Cultura - Um Conceito Antropológico
Jorge Zahar Editor, Rio de Janeiro, 116p.
RIBEIRO, Berta G.
1994 As artes da vida do indígena brasileiro.
Índios no Brasil - organizado por Luís Donisete Benzi Grupioni. Ministério da Educação e do Desporto,
Brasília. 135 - 144p.
1988 Dicionário do artesanato indígena
Editora da Universidade de São Paulo, São Paulo, 343p, il.
VELTHEM, Lucia Hussak van.
1998 A Pele de Tuluperí: Uma etnografia dos trançados Wayana
Belém: Museu Parense Emílio Goeldi. 251 p. il.
VIDAL, Lux e SILVA, Aracy Lopes da
1995 O sistema de objetos nas sociedades indígenas: Arte e Cultura Material A Temática Indígena na Escola: Novos subsídios para professores de 1º e 2º graus - organizado por Aracy Lopes da Silva e Luís Donisete Benzi Grupioni, MEC/MARI/UNESCO, Brasília. 369 - 402p.