A sociedade brasileira em seu período de formação, nos primeiros anos do descobrimento e durante a época colonial, utilizou-se, amplamente, dos artefatos indígenas para a sua própria sobrevivência, dada a existência de numerosas populações indígenas habitando o país no litoral e no interior. Um dos vários e importantes legados dessas sociedades a nossa cultura é o mobiliário indígena, em especial o banco e a rede. A rede está entre os artefatos da cultura material das sociedades indígenas mais utilizados pela sociedade brasileira desde o século dezesseis até hoje.
Chamamos de tecnologia o estudo de todos os objetos criados pelos grupos humanos visando à sua melhor adaptação no tempo e espaço em que vivem. É através da fabricação dos objetos que os grupos humanos interagem com o seu meio ambiente, utilizando-se dele e imprimindo-lhe a sua marca.
A produção de variados objetos da cultura material, ferramentas, instrumentos, utensílios e ornamentos, com os quais um grupo humano busca facilitar sua sobrevivência, está ligada à escolha e utilização das matérias-primas disponíveis; ao desenvolvimento da técnica adequada de manufatura; às atividades envolvidas na exploração do ambiente e na adaptação ecológica e à utilidade e finalidade prática dos objetos e instrumentos produzidos. Estão presentes, também, elementos de ordem simbólica, ligados às concepções religiosas, estéticas e filosóficas do grupo.
Embora a humanidade tenha criado objetos bastante semelhantes, cada povo, ou grupo étnico, com seu jeito de viver, inteligência e criatividade, tem desenvolvido tendências próprias, objetos e técnicas totalmente distintas de outros grupos. Assim, a diversidade se faz presente, pois cada povo construiu, através de sua unidade política, econômica e religiosa, bem como de sua língua e forma de sociabilidade, a sua especificidade, o que o torna único e diferente dos demais.
Entendendo a cultura de um povo como um código simbólico compartilhado por todos os homens, mulheres e crianças do mesmo grupo social, as sociedades indígenas não separam, dentro de sua experiência coletiva, a produção de um objeto da cultura material da produção artística, como costumamos fazer em nossa visão ocidental. Nas culturas indígenas, todo objeto, seja utilitário, ornamental ou ritual ( mágico - religioso), é também um objeto de arte, pois está plenamente integrado em todos os campos da ação humana, das práticas sociais. Uma rede, uma casa, um banco, um cesto e uma panela são bons e belos se realizados dentro dos parâmetros compartilhados por todos os indivíduos daquela sociedade. Nesse contexto, também são apreciadas as novidades estéticas internas e externas, fruto das mudanças da vida cotidiana, que cada indivíduo pode acrescentar ao modo de fazer um objeto.