Mais de 120 indígenas já entraram na UFPA pelo sistema de cotas.
Procura, porém, diminuiu ao longo do tempo, dizem estudantes.
Eles já estão na universidade e sabem os desafios e as vantagens de chegar ao ensino superior como indígena. De 8 a 19 de outubro, alunos de graduação e pós-graduação indígenas da Universidade Federal do Pará (UFPA) participam de uma caravana que vai visitar aldeias no estado, levando informações sobre cursos ofertados e orientando sobre como se candidatar a uma vaga pelo sistema de cotas.
A caravana é organizada pela Associação dos Povos Indígenas Estudantes na UFPA (APYEUFPA) que observou a redução gradativa do número de indígenas que se candidatava e era aprovado no vestibular, em Belém.
“Em 2010, dos 23 indígenas aprovados, apenas 11 continuam cursando a graduação. Em 2011, dos 16 aprovados para os cursos de Belém, sete ainda são alunos da UFPA. Mas entre os 10 aprovados em 2012, apenas um não continuou no curso em que foi aprovado”, explicam os estudantes de Belém. Participando da Associação e entendendo melhor o curso, antes da escolha, a turma aprovada em 2012 teve menos desistências.
“Tenho um parente que, na hora da inscrição, escolheu o curso de Engenharia Sanitária e Ambiental, mas ele imaginava que teriam uma formação mais voltada para a área de meio ambiente. Após um ano no curso, desistiu, porque a realidade da profissão não era a que ele esperava”, conta Almir Tembé.
Por isso, a caravana também leva cartilhas, vídeos e palestrantes que irão falar sobre os cursos que, na avaliação dos próprios alunos indígenas da UFPA, são os mais demandados pelos povos indígenas, como Medicina, Farmácia, Direito e Pedagogia.
O representante da Associação de Estudantes Indígenas da UFPA, Edimar Fernandes, diz que o evento tem um grande desafio: incentivar e orientar chefes das famílias e jovens das aldeias sobre a oportunidade de ingresso no ensino superior.
"É importante que nossos parentes, nossas lideranças e nossos jovens saibam mais sobre esse mundo da universidade, que é tão estranho a nós. Queremos aproximar a universidade das aldeias. As lideranças, os pais precisam saber para onde os filhos estão sendo enviados e os alunos do ensino médio, adolescentes e jovens devem ser despertados para a importância desta escolha não apenas de ingresso no ensino superior, mas também da carreira que ele quer seguir”, defende o estudante de Pós-Graduação em Direito.
“Vamos explicar melhor informações sobre os cursos, as regras, as oportunidades de bolsas, as políticas de ações afirmativas e também detalhes sobre o conteúdo dos cursos e as oportunidades no mercado de trabalho para que eles tenham uma ideia mais precisa sobre como será a vida de cada um na Universidade e após se formar”, explica o assessor da Pró-reitoria de Ensino de Graduação da UFPA, Mauro Magalhães.
Todas as universidades públicas do Pará têm cotas para índios
No último vestibular, a Universidade Federal do Oeste do Pará (Ufopa) ofertou 1200 vagas no seu processo seletivo, além de 50 vagas destinadas exclusivamente à candidatos indígenas.
Já a Uepa criou um curso de graduação específico em Licenciatura Intercultural Indígena que ofertou 100 vagas para índios das tribos Tembé, Suru e Gavião no campus da universidade em São Miguel do Guamá, no nordeste do estado.
Por outro lado, a Universidade Federal do Pará (UFPA) oferta a cada ano duas vagas extras em todos os cursos mantidos pela instituição especificamente para estudantes de origem indígena. Em 2012, foram 352 vagas.
A Universidade Federal Rural do Pará (UFRA) também mantém reserva de vagas à estudantes indígenas. A cada vestibular um percentual de vagas é destinado a alunos da rede pública em proporção ao número total de inscritos. Do total de vagas ofertadas por este tipo de cotas, 20% é para estudantes autodeclarados negros ou pardos e 5% aos que se declaram índios. No último processo seletivo 20 estudantes indígenas participaram da seleção.