O Centro Cultural Banco do Brasil de Brasília apresenta ao público a exposição Os Trópicos – Visões a Partir do Centro do Globo, que traz para o Brasil 130 obras de arte antiga de países na faixa tropical do planeta (África, Ásia, Américas e Oceania), vindas do acervo do Museu Etnológico de Berlim, considerado um dos mais importantes do mundo, e 87 trabalhos de 23 artistas contemporâneos de vários países, dentre pinturas, desenhos, fotografias, esculturas, vídeos e instalações.
A exposição ocupará todo o espaço do CCBB Brasília, e propiciará um rico e inédito diálogo entre a produção de arte antiga e a atual. A exposição terá ainda peças de arte plumária vindas do acervo do Museu do Índio, do Rio de Janeiro.
Os Trópicos tem curadoria de Alfons Hug, diretor do Instituto Goethe Rio de Janeiro, Viola König, diretora do Museu Etnológico de Berlim, e Peter Junge, curador do Museu Etnológico de Berlim, que estarão presentes à abertura. A dupla de artistas suíços Steiner/Lenzlinger, e os brasileiros Walmor Corrêa e Milton Marques (que é de Brasília) também estarão lá.
A inauguração da mostra dá início ao “Kulturfest, Estação alemã 2007/2008”, e terá a presença do Ministro da Cultura Gilberto Gil.
A grande exposição percorre os mais de cinco mil quilômetros de extensão existentes entre o Trópico de Capricórnio e o Trópico de Câncer, localizados no grau de latitude 23 dos hemisférios Norte e Sul, e Alfons Hug ressalta no texto do catálogo que “a arte antiga nos mostra os trópicos antes de perderem a sua inocência e se transformarem no chamado Terceiro Mundo”. “É fascinante a sua irresistível linguagem de formas, a sua riqueza plástica, o seu conteúdo espiritual e a sua capacidade de interpelar o observador. Por menor que possa ser a escala física, o seu efeito estético é gigantesco”, aponta. Já a força da arte contemporânea está no seu elevado grau de reflexão e no seu potencial crítico. Outra coisa que fica evidenciada na mostra é que quando a arte é verdadeira ela permanece, não importando se foi produzida hoje ou há 200 anos.
A região entre o Trópico de Capricórnio e o Trópico de Câncer até o século XV era “terra incógnita”, local de origem do homo sapiens (mais exatamente do leste africano equatorial), e da projeção de sonhos exóticos, desejos irrealizáveis e medos de artistas, escritores, pesquisadores e viajantes, como o mais recente romance de Mario Vargas Llosa, “Paraíso na outra esquina”, ou, em outro extremo, “Coração das trevas”, de Joseph Conrad. Ou ainda os tristes trópicos, dos estudos de Claude Lévi-Strauss no início do século XX e que Gilberto Gil cantou em “Marginália 2”, como “melancolia tropical”. “Interpretações e leituras dos trópicos assemelham-se a uma biblioteca imaginária e a um museu inventado, nos quais são conservados nossos sonhos e nossos desejos secretos. Até hoje os artistas marcam a idéia que fazemos dos trópicos”, resume Alfons Hug.
Essa região, que aparece de início como uma linha de separação puramente geográfica e cartográfica, que não pode ser vivenciada fisicamente pelo ser humano, é um limite incisivo, em que o sentimento da vida, a contemplação da natureza e a concepção de arte se transformam radicalmente.
Os Trópicos – Visões a Partir do Centro do Globo é uma exposição de arte, em que mesmo as obras antigas foram escolhidas segundo critérios estéticos e não científicos. O projeto também tem o intuito de incentivar o diálogo Sul-Sul, como, por exemplo, entre a África e a Oceania, ou entre a Ásia Tropical e a América do Sul.
Os artistas contemporâneos que participam da mostra são Guy Tillim (África do Sul), Thomas Struth, Candida Höfer, Marcel Odenbach, Hans-Christian Schink (Alemanha), Caio Reisewitz, Walmor Corrêa, Maurício Dias & Walter Riedweg, Paulo Nenflídio, Lucia Laguna, Marcos Chaves, Marcone Moreira, Milton Marques (Brasil), Sherman Ong (Cingapura), Pilar Albarracín (Espanha), Theo Eshetu (Etiópia), Fiona Tan (Inglaterra), Sandra Gamarra, Fernando Bryce, David Zink Yi (Peru), e Gerda Steiner & Jörg Lenzlinger (Suíça).
A montagem de Os Trópicos irá ressaltar grandes temas que atravessam os tempos, misturando obras contemporâneas e peças antigas no espaço expositivo, em um permanente diálogo: Natureza, Antepassados e Imagens Humanas, Poder e Conflito, Cores, e Instrumentos Musicais. Esses grupos temáticos foram livremente inspirados pelas “Mitológicas” de Claude Lévi-Strauss, em especial as obras “Do mel às cinzas” e “O cru e o cozido”. Uma instalação de grande porte da dupla suíça Gerda Steiniger & Jörg Lenzlinger será apresentada no pavilhão de vidro de Brasília.
Completa a exposição um catálogo que pretende dar continuidade à discussão das questões levantadas pela exposição. Além de imagens das obras, a publicação reúne seis textos inéditos, de Alfons Hug, Viola König (Diretora do Museu Etnológico de Berlim), Peter Junge (curador do Museu Etnológico de Berlim), Fernando Cocchiarale (crítico de arte), Roberto Cabot (artista plástico), e Ticio Escobar (crítico de arte, Asunción/Paraguai).
A mostra irá para o Museu Martin-Gropius-Bau, em Berlim, de 13 de setembro de 2008 a 12 de janeiro de 2009.
Palestras - Serão realizadas duas palestras no CCBB, com entrada franca. No dia 16 de outubro, às 18h30, os três curadores da mostra vão falar sobre a arte nos trópicos, e, no dia seguinte, às 19h30, Maurício Dias e Walter Riedweg falarão sobre sua experiência na Documenta de Kassel, este ano.
Os Trópicos – Visões a partir do centro do globo, visitação pública: 16 de outubro 2007 a 10 de fevereiro de 2008, de terça-feira a domingo das 10h às 21h.Entrada francaCentro Cultural Banco do Brasil Brasília | SCES, Trecho 02, conjunto 22 – Brasília | Telefone.: (61) 3310-7087. Curadoria: Alfons Hug, Viola König e Peter Junge.