A cultura dos povos indígenas que viveram e que ainda vivem na região do Cone Sul, em Rondônia, é tratada no livro Rooksgnalen (Sinais de Fumaça, em português) publicado na Holanda e que ainda não foi traduzido para outros países. A obra teve a colaboração de Júlio Olivar (atual vice-presidente estadual do PCdoB), estudioso da questão indígena que forneceu material de pesquisa e concedeu entrevista à autora.
O livro foi escrito pela jornalista Ineke Holtwijk, que foi correspondente na América Latina para o Volkskrant (o jornal do povo, de Amsterdã) por cerca de 15 anos, tendo como base a cidade do Rio de Janeiro. Ela esteve várias vezes em Vilhena, a última delas em 2003, quando fez uma pesquisa de campo, visitou a Casa de Rondon (marco zero de Vilhena) e entrevistou indígenas, fazendeiros, sertanistas, pesquisadores e moradores da região sobre as questões indígenas.
Ineke inicia o livro-reportagem de maneira despretensiosa. Ela conta que viu uma fotografia do primeiro contato com um indígena em O Estado de São Paulo. Por intermédio de um conhecido, Ineke entra em contato com um sertanista da Funai (Fundação Nacional do Índio), Moacir Melo, e junto com ele viaja de Vilhena para algumas reservas indígenas do Estado. Ineke conhece dois povos recém contatados: um pequeno grupo de Kanoê e outro de Akuntsu, no município de Corumbiara (RO).
Em Rooksignalen, Ineke narra desde o primeiro contato dos sertanistas com estes povos até o momento atual. Estão registradas no livro as diversas visitas que ela fez à região e viu com os próprios olhos a transformação na vida destes moradores tradicionais do que chamamos de Brasil a partir do contato com o mundo dito civilizado. O final não é dos mais felizes. Houve massacres, torturas e desrespeito à cultura dos índios nesta região.
Ineke é bastante conseqüente na tarefa de relatar o que viu e pesquisou. Ela ainda relata a biografia do marechal Cândido Rondon e a luta dos sertanistas que trabalham com os indígenas isolados, a exemplo de Marcelo dos Santos, que morava em Vilhena. Atualmente, ele vive em Goiás. Foi um dos “personagens” centrais do livro. Marcelo enfrentou políticos e latifundiários que o tinham como “persona non grata” no estado. A Assembléia Legislativa chegou a votar uma moção de repúdio contra ele, apontado como “inimigo do progresso” ao “plantar índios” em fazendas “particulares”.
Chama atenção o jeito como Ineke descreveu os indígenas, com tanto respeito e compreensão, diminuindo a distância dos leitores 'leigos' com esta realidade cruel.