Brasília - As inscrições para o Prêmio Culturas Indígenas 2007 – Edição Xicão Xukuru, que se encerrariam nesta segunda-feira, 7, foram prorrogadas para 29 de fevereiro. A mudança atende a uma reivindicação de várias organizações indígenas, como afirmou o coordenador-geral da premiação, Maurício Fonseca.
“A dilatação do prazo foi necessária para que as comunidades indígenas mais distantes tenham oportunidade também de apresentar suas atividades. O material promocional levou, por exemplo, 55 dias para chegar às comunidades de São Gabriel da Cachoeira, no Amazonas”, explicou Fonseca.
As iniciativas concorrentes podem fazer parte das mais diversas áreas de atividades, tais como medicina, religião, rituais, culinária, festas, língua, patrimônio, jogos, brincadeiras, teatro e histórias encenadas. Serão premiadas 100 iniciativas coletivas das expressões culturais indígenas com o valor de R$ 24 mil. O formulário de inscrição está disponível no site do ministério na internet.
De acordo com o coordenador, na primeira edição do prêmio, em 2006, 504 comunidades indígenas apresentaram suas atividades. Fonseca afirma que a premiação é importante para revelar a precariedade das condições com que várias dessas comunidades preservam as suas tradições. Essa é uma das razões pela qual a inscrição é bastante simples, argumentou Maurício. “As inscrições podem ser apenas gravadas, em vez de serem escritas, não é necessário ter uma organização formalmente constituída. Apenas não podem concorrer iniciativas individuais, mas é permitido estar representando sua comunidade, que tanto pode viver em aldeias quanto em áreas urbanas. O principal critério então é ser uma atividade cultural indígena”, explica.
Para Ricardo Lima, secretário-substituto da Secretaria da Identidade e da Diversidade Cultural (SID), do Ministério da Cultura, que promove a premiação, a iniciativa é fundamental para o reconhecimento da cidadania indígena. “É um prêmio de inclusão, que reconhece os indígenas como cidadãos brasileiros. A premiação resgata e preserva o que os povos indígenas têm produzido, que é de uma riqueza infinita”, avaliou.
Puyra Tembé, representante de um dos projetos premiados na última edição, diz que a iniciativa ajuda no resgate a costumes que já estavam enfraquecidos. Os Tembé foram premiados pela retomada da Festa da Moça. Na época das avós de Puyra, a iniciação à vida adulta das meninas Tembé era realizada anualmente. Aquelas que menstruavam pela primeira vez eram submetidas a um rito de passagem que durava uma semana com danças e cânticos. “Nossa intenção agora é fazer a festa novamente todos os anos. Muitas de nós, adultas, não tiveram essa iniciação”, conta.
A cada edição uma personalidade indígena é homenageada. Na primeira edição, o ex-líder Kaingang, Ângelo Cretã, foi o escolhido. Ele foi o primeiro indígena a exercer um cargo político no Brasil: em 1976 elegeu-se vereador. Nessa segunda edição, a homenagem é para o ex-cacique Xicão Xukuru, de Pernambuco, morto em maio de 1998. Xicão foi líder na luta pela posse das terras de origem de sua etnia e desempenhou um papel importante na mobilização indígena por ocasião da Constituinte de 1988.
E estão abertas também as inscrições para o Prêmio Culturas Ciganas que tem por objetivo valorizar e dar visibilidade às iniciativas culturais dos povos ciganos, além de fortalecer as expressões culturais e a identidade cultural desses povos. Serão premiadas 20 iniciativas inscritas. Cada um dos vencedores receberá R$ 10 mil. As inscrições vão até 21 de janeiro.
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