O Festival de Culturas Xinguanas irá reunir as 16 etnias do Parque entre os dias 10 e 12 de junho próximo na aldeia Ipavu, do povo Kamaiurá, na região do Alto Xingu, no Parque Indígena do Xingu (MT).
Danças, jogos tradicionais, como Huka Huka, cabo de guerra e arco e flecha, mostras de filmes e rodas de conversas políticas bem como reflexões sobre a história do Parque Indígena do Xingu (PIX) irão marcar o I Festival de Culturas Xinguanas, em comemoração aos 50 anos de criação do parque.
O evento é realizado pela Associação Terra Indígena Xingu (Atix), em parceria com as demais associações indígenas xinguanas, e conta com o apoio do Instituto de Pesquisa Etno Ambiental do Xingu (Ipeax), da coordenação regional-Xingu da Funai e do Instituto Socioambiental (ISA).
Kumaré Ikpeng, um dos organizadores do evento, conta que este será um importante momento para os xinguanos. "Durante o festival, faremos uma reflexão política sobre esses 50 anos de existência do Parque Indígena do Xingu e suas perspectivas futuras. Esta celebração será um marco, pois recupera sua história desde a época do contato até os dias de hoje e retrata as mudanças ocorridas aqui".
O evento também conta com o apoio da Ecoar comunicação, da O2 Filmes, da Funai, da Agência para o Desenvolvimento Internacional dos Estados Unidos (Usaid), da Unicef e das empresas locais: Prisma, Constrular, Elétrica Padrão, Müller e Fica Fácil construir (F.F.), além de pessoas físicas.
A criação do Parque
Resultado de vários anos de trabalho e luta política, o parque foi criado em 1961 por decreto assinado pelo Presidente Jânio Quadros. É reconhecido pela Unesco como importante conjunto lingüístico e cultural do mundo e foi a primeira grande Terra Indígena demarcada no País. Sua criação envolveu os irmãos Villas Boas (Claudio e Orlando) e personalidades como o Marechal Rondon, o antropólogo Darcy Ribeiro, o médico e indigenista Noel Nutels e o Vice-presidente da República Café Filho e Presidente depois do suicídio de Getúlio Vargas (entre 1954 e 1955), entre outros.
Hoje, mais de seis mil índios que vivem no PIX. A região sul do parque, conhecida como Alto Xingu, devido à altura geográfica, é onde estão os povos Aweti, Kalapalo, Kamaiurá, Kuikuro, Matipu, Mehinako, Nahukuá, Naruvotu, Wuaja e Yawalapiti. No Médio Xingu, estão os Trumai, Ikpeng, Kaiabi e Kamaiurá, no Baixo Xingu, estão os Ikpeng, Kaiabi e Yudjá e no leste, os Kisêdjê e Tapayuna.
A comemoração dos 50 anos do PIX tem diferentes significados para esses povos, que enfrentaram conflitos e mudanças de território para então se estabelecerem. Para Ianukula Kisêdjê, assessor da coordenação da Funai em Canarana, o evento é uma oportunidade de repensar o território e a relação dos xinguanos com o mundo dos não-índios. "Precisamos pensar nos anos que virão pela frente, pois as mudanças vêm em uma velocidade muito grande, o que nos leva a refletir se estamos preparados para enfrentar essa pressão que estamos sofrendo. Sentimos a obrigação de acompanhar a velocidade das coisas que estão acontecendo no Brasil e no mundo. Conciliar essa velocidade do mundo dos não-índios e ao mesmo tempo manter nossas tradições é um desafio para todos nós".
Ianukula fala também sobre os limites do parque e a perda territorial das etnias. "O parque é um território grande, mas é muito pequeno se a gente comparar com a área tradicional, que antigamente não tinha fronteiras, as riquezas naturais não tinham limites. O Xingu é um símbolo de preservação, pelo menos em seu interior, cultural e ambientalmente".
Para Winti Kisêdjê, presidente da Associação Indígena Kisêdjê (AIK), refletir sobre o futuro do PIX é de grande importância. "O festival dos 50 anos para mim é importante para solucionar os problemas políticos dentro do Xingu e os externos também. Espero que isso renove a própria relação do Xingu e ajude a construir uma única política e a união dos povos xinguanos".
André Villas-Bôas, coordenador do Programa Xingu, do ISA, explica que a criação do parque foi uma 'engenharia social'. "A criação do PIX significou uma ação de ordenamento territorial feita pelo estado. Redundou na concentração de um conjunto de povos dentro de uma área e a liberação do restante do território para a ocupação mo contexto regional. É uma engenharia social. Seus limites não foram discutidos com as populações indígenas, não foi resultado de um laudo antropológico, que estudou as formas tradicionais de ocupação para definir o limite, naquela época foi uma interpretação".
Fonte : www.socioambiental.org