O ano é da diversidade, e ela é o tema-base da Feira Literária I nternacional do Tocantins (FLIT), que imbuída em promover o multiculturalismo criou a oportunidade de comunidades tão ricas em história e importância para o Estado se aproximarem: os indígenas e os quilombolas. Em um destes momentos de congregação, representantes das tribos Karajá-Xambioá e KrahÃ?-Kanela e da comunidade Quilombola de Cocalinho mostraram para os presentes parte da vasta cultura que possuem, seja com cânticos, danças ou até mesmo com uma demonstração de luta corporal indígena.
Guerreiro responsável pela segurança da tribo a que pertence, Estevão Ideu KrahÃ?-Kanela afirmou a felicidade da etnia dele por poder participar do maior evento cultural do Estado, o que foi simbolizado pela apresentação artística que fizeram, ao som dos cantos e dos maraká (chocalhos). "Somos uma etnia relativamente nova, que veio da mistura entre os KrahÃ? e os Kanela. Por isto, para nós é muito importante estarmos aqui, pois mostramos a nossa cultura aos que ainda não conhecem. Isto ajuda no processo de afirmação de nosso grupo, que hoje é composto por cerca de 80 integrantes que vivem da caça e da pesca e do que planta, além de ser conhecido por ser batalhador, de guerreiros fortes, mas não bélico, já que só lutamos quando temos nossos direitos feridos. Hoje é um dia de alegria, por isto apresentamos a nossa dança e canção do verão, que mostra a nos sa felicidade pela chegada da nova estação da fartura e que exalta o entusiasmo, assim como a do inverno, que marca a chegada da estação chuvosa, importante para as nossas plantações", explicou Ideu KrahÃ?-Kanela, de 42 anos, que é irmão do cacique da tribo, que vive à margem dos rios Javaé e Formoso, no município tocantinense da Lagoa da Confusão.
Composta por aproximadamente 520 índios, a tribo Karajá-Xambioá também realizou uma apresentação de dança e cântico, e impressionou a todos com uma demonstração de força na luta corporal. Para o jovem cacique Gilvan Karajá-Xambioá, de apenas 35 anos, a FLIT ajuda a reforçar a união já existente entre as diferentes etnias do Tocantins e a popularizar a cultura de cada uma delas. "Somos, normalmente, bastante amigos um dos outros, e podemos mostrar isto aqui, o que é importante, já que muitos pensam não é assim que funciona a nossa relação. Nós, da etnia Karajá-Xambioá, sempre somos preparados para acompanhar e aprender sobre a cultura do homem branco, para entendê-los melhor. Eu fui preparado desde muito novo, por isto fui escolhido, por votação na tribo, como o cacique da minha gente, que é famosa pela habilidade com o arco-e-flecha no momento da p esca, que fazemos no Rio Araguaia, e por sermos contemplados pelo projeto nacional'Tartaruga da AmazÃ?nia', já que sempre nos alimentamos da tartaruga, por isto estamos ajudando os brancos no manejo e na procriação delas, para que ninguém fique prejudicado", revelou o líder dos Karajá-Xambioá, que se apresentaram usando o tradicional haretu, uma espécie de cocar que simboliza o Sol.
Cantando a história e o cotidiano
Com cerca de 240 integrantes, a Comunidade Cocalinho, um dos 15 grupos quilombolas existentes no Tocantins, também contou parte da história a partir da dança e do canto, que focam os lamentos pelo triste passado de opressão e pelas alegrias do novo cotidiano, conforme contou José Carlos Silva Sousa, presidente da Cocalinho."Os quilombolas são os descendentes dos escravos africanos que foram trazidos para o Brasil, e nós cantamos muito as histórias de sofrimento e sobrevivência do nosso povo, e as intensas batidas de pés no chão que marcam o ritmo de nossas músicas simbolizam uma forma de eliminarmos esta dor de nossos corpos. Além disto, contemplamos o nosso dia-a-dia nos cânticos, o nosso trabalho na roça, a quebra do milho que nos alimenta. Tão cedo fomos convidados para participarmos da FLIT nós aceitamos, pois esta é uma chance de reforçarmos a cultura d os quilombolas e de interagirmos com outros povos que enriquecem o Tocantins, como os indígenas", exaltou o quilombola de 31 anos, que é bisneto de escravo.
Programação desta segunda-feira, 1º
Nesta segunda-feira, dia 1º de agosto, a Estação Multicultural vai receber as etninas Javaé, que reside na Ilha do Bananal, KrahÃ?-Kanela, Karajá-Xambioá e, também, os quilombolas da Cocalinho. As programações do espaço neste 8º dia de FLIT vai se estender até o hall do auditório do Palácio Araguaia, onde haverá, a partir das 18 horas, uma apresentação com os povos participantes.