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Congresso em Quito lança Atlas de línguas em perigo no mundo

Entre 7 e 9 de setembro últimos, a Pontifícia Universidade Católica de Quito, no Equador, sediou o congresso "Vozes e imagens de línguas em perigo" do qual participaram linguistas e pesquisadores de todo o mundo, que debateram a situação das línguas ameaçadas em seus países. Durante o evento, foi lançado o atlas que mostra onde estão as línguas em perigo e extintas nos quatro cantos do planeta, entre outras informações. O historiador José Ribamar Bessa foi o único brasileiro a participar do Congresso.

Com patrocínio da embaixada britânica em Quito, o Congresso "Vozes e imagens de línguas em perigo" reuniu especialistas, linguistas e pesquisadores de todo o mundo. Ao longo de três dias eles apresentaram trabalhos, deram palestras e debateram políticas públicas e a situação das línguas em seus países.
Durante o congresso foi lançado o Atlas Unesco das línguas do mundo em perigo (Atlas of the World's Languages in Danger). O mundo tem hoje, de acordo com o Atlas, 2 473 línguas em perigo. Entre os dez países que apresentam maior número de línguas em perigo estão Índia (198); Estados Unidos (191); Brasil (190); Indonésia (146); China (144); México (143); Rússia (131); Austrália (108); Papua Nova Guiné (98) e Canadá (88). Ainda segundo o Atlas, as 190 línguas estão em perigo no Brasil estão assim classificadas:
:: 12 extintas
:: 97 vulneráveis (muitas crianças falam a língua, mas apenas em certos ambientes como a casa, por exemplo)
:: 17 em perigo definitivo (as crianças não aprendem mais a língua materna em casa)
:: 19 em perigo severo (a língua é falada pelos avós e gerações mais velhas; os pais podem entendê-la mas não falam entre si e nem com as crianças)
:: 45 em situação crítica de perigo (os falantes são jovens, falam parcialmente a língua e não com frequência)
Publicado pela Unesco, o Atlas foi organizado e coordenado pelo linguista australiano Christopher Moseley. A grande novidade desta terceira edição é a versão online e interativa feita com o Google Maps que foi lançada antes da versão impressa. Outras novidades desta edição são as versões em francês e espanhol. Mas para download só estão disponíveis em inglês e em francês.
O historiador José Ribamar Bessa Freire, único brasileiro a participar do Congresso, fez uma apresentação na qual resumiu a situação das línguas ameaçadas no Brasil. Autor do livro Rio Babel. A história das línguas no Amazonas, cuja segunda edição acaba de ser lançada pela editora UERJ, ele afirmou que sua preocupação básica é com o duplo esquecimento em relação às linguas. "Em primeiro lugar, o esquecimento das línguas, que nada mais é que a perda das funções, o que inibe sua reprodução e dessa forma desaparecem do mapa por morte natural ou glotocídio. Em segundo lugar o esquecimento do esquecimento - sua existência se apaga da memória. Dessa forma, as línguas maternas morrem pelo menos duas vezes: quando as esquecemos e quando nos esquecemos que foram esquecidas. O mais dramático é quando isso se torna natural".
Bessa avaliou ainda que a escola e os meios de comunicação são totalmente omissos em relação ao tema e que os brasileiros podem passar anos na escola – do ensino fundamental à universidade – sem nunca ouvir qualquer menção à história das línguas. Ou seja, não apenas não são faladas como sequer se sabe que fazem parte da história. Aí estão incluídas línguas indígenas e línguas de origem africana que durante muito tempo foram discriminadas e proibidas pelo Estado por meio de políticas públicas.
De acordo com o historiador, a Constituição de 1988 reconheceu aos índios o direito de usar suas línguas em espaços públicos, de nelas serem alfabetizados, de usá-las como língua de instrução nos primeiros anos, ganhando assim o espaço das salas de aula. No texto que escreveu e que faz parte das Atas do Congresso, Bessa afirma que além da política educacional que introduziu as línguas indígenas nas escolas bilíngues, alguns centros de pesquisa desenvolvem projetos para documentá-las e ampliar assim as possibilidades de salvaguardá-las. E cita o projeto de documentação de 13 línguas indígenas, entre as 35 consideradas mais ameaçadas, que é desenvolvido desde 2008 pelo Museu do Índio (Funai), coordenado pela antropóloga Bruna Franchetto. Esse registro já tem quase seis mil arquivos sonoros, quase quinhentas horas de filmes e gerou mais de 50 mil fotos.
As Atas do Congresso com a reprodução das palestras e conferências ainda não estão disponíveis on line no site da PUC de Quito, mas já existe uma versão impressa editada por Marleen Haboud e Nicholas Ostler denominadas Endangered Languages: voices and images. Proceedings..
Fonte: www.socioambiental.org

 

16/09/2011