Foi no dia nove de dezembro que a aldeia dos Parkatêjê, em Marabá, município do Pará, comemorou o lançamento do livro e do DVD que conta a história da pequena comunidade, que já esteve ameaçada de extinção. Com muita festa e comemorações típicas da cultura local, os cerca de 350 indígenas que formam a população da tribo vibraram com o fim de um trabalho onde os próprios participaram diariamente, desde as falas até as gravações.
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"Isto pertence ao meu povo" é o título do livro, que teve apoio da Vale do Rio Doce. Ao todo, dois mil exemplares foram distribuídos entre a aldeia e visitantes. A obra tem 196 páginas e é o resultado de entrevistas com o cacique Krôhôkrenhum (foto abaixo), já octagenário e fundador da tibro. As entrevistas foram feitas por voluntários da própria aldeia, que antes passaram por processo de aprendizagem nas oficinas.
A filha do capitão Krôhôkrenhum, Iracema, também conhecida como Krôhôkre, participou ativamente na coleta de informações do passado sobre seu povo, e afirma ter realizado um sonho com toda a aldeia. "Participei na oficina. Nós tivemos mais um pouco de conhecimento. Hoje temos uma base de como fazer esse trabalho, como fazer um livro. A felicidade para todos nós foi grande. Foi nossa realização, um sonho realizado", afirmou.
Todo o trabalho teve a coordenação das linguistas Leopoldina Araújo e Marília Ferreira, docentes da Universidade Federal do Pará. As oficinas finais de organização e ilustração de obras foram feitas com o designer gráfico Guilherme Kiehl Noronha. Já o filme, com cenas filmadas por membros da aldeia, chama-se "Eu não posso morrer de graça", do cineasta Vicent Carelli. Este convive com o capitão desde a década de 60. A ONG Vídeo nas Aldeias também ajudou a tornar o sonho uma realidade.
O disgner Guilherme contou que a aldeia passou pelo aprendizado de filmagem e movimentos de câmera com o objetivo de os próprios moradores da comunidade registrarem sua história. Ele afirma que este foi o trabalho mais prazero que já fez, mesmo já tendo realizado outras atividades nessa área. O processo todo pouco mais de um ano.
"Cada publicação é como um filho. Para mim o maior desafio desse livro foi poder trazer a criação do projeto gráfico para dentro da aldeia. Era uma coisa que eu queria fazer há muitos anos", disse.
Festa para o lançamento
O fim de semana foi de festa para os índios Parketêjê. Logo na entrada da aldeia, a faixa que estampa o orgulho: "É bonito assim nossa história sair no mundo". Na quinta-feira, os índios faziam os preparativos para receber outras pessoas de aldeias vizinhas e visitantes da cidade. A decoração, a comida, os enfeites, tudo preparado com antecedência. O capitão, que costuma se recolher cedo, fez "hora extra" para terminar o trabalho que ainda precisava ser realizado.
A sexta-feira foi o grande dia do lançamento. Com sorrisos para todos os lados, a aldeia celebrou a apresentação do livro e do DVD com rituais próprios. As crianças saudaram a chegada do capitão Krôhôkrenhum ao palco improvisado. Com canção no dialeto local, o jê timbira, que voluntários e mais velhos da aldeia tentam resgatar nos mais novos, os pequenos soltaram a voz. Depois, o capitão emocionado apresentou o livro para todos, onde o próprio está na capa.
Logo depois foi a vez de todos cumprimentarem o capitão. Primeiro os visitantes e em seguida os índios. A celebração também contou com a tradicional corrida de tora, onde tanto homens quanto mulheres corriam com uma grande tora de madeira. Quando um cansava, outro assumia a responsabilidade de carregar o peso. Uma dança típca e depois a refeição encerraram os festejos.
Fonte: www.sidneyrezende.com
11/12/2011 21h29