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Almir Surui mostra às lideranças indígenas do Acre como participar

..do milionário mercado internacional de carbono

A palestra de Almir Narayamoga Surui, chefe dos Paiter (RO), no último dia da Oficina de Informação sobre o Sistema de Incentivos a Serviços Ambientais (SISA), acabou com as dúvidas das lideranças indígenas do Acre e encheu todos - índios e não-índios -, de esperança: a proteção da floresta e da biodiversidade tem valor, é em dólar e aos milhões.

A oficina foi promovida pelo Instituto de Mudanças Climáticas – IMC, em parceria com a Comissão Pró-Índio e a ONG Forest Trends, com objetivo de transferir conhecimento atual e confiável sobre o aquecimento global e seus efeitos locais, bem como sobre a Política de Incentivos a Serviços Ambientais do Acre. "Estamos ofertando informação ampla, confiável e verdadeira sobre os impactos das mudanças climáticas e sobre o que o Governo do Estado está fazendo para evitar mais degradação e para beneficiar as pessoas que, por vontade própria, assumem o papel de protetores da natureza e da biodiversidade", explicou o diretor presidente do IMC, Eufran Amaral.

Já existe um mercado internacional voluntário de carbono. Grandes investidores e empresas apóiam projetos de conservação e desenvolvimento sustentável e pagam para quem deixa de desmatar e promove o chamado serviço ambiental. O Estado do Acre está na vanguarda brasileira da criação das regras que definem a participação neste mercado. O objetivo é dividir os benefícios do desenvolvimento sustentável com quem ajuda a proteger a natureza.

O Projeto Carbono Suruí é o primeiro projeto do tipo implantado no Brasil e o primeiro projeto indígena no mundo. (Saiba mais em www.surui.org)

"Dinheiro não é solução. É instrumento". Essa foi a resposta de Almir para aqueles que afirmaram que sua tribo estava "vendendo" as suas terras ao elaborar o projeto de pagamento por serviços ambientais. Os recursos provenientes dos serviços ambientais (que são o resgate do saber tradicional da tribo, a gestão consciente dos recursos naturais, o reflorestamento e a luta contra o desmatamento) pagam a implementação do Plano de 50 Anos do Povo Paiter. Certamente o maior projeto da tribo.

Este plano foi desenvolvido depois que a etnia quase desapareceu. "O contato com os brancos foi um desastre. Nós éramos mais de 5 mil pessoas, e dois anos depois sobraram só 290 pessoas. Nós quase acabamos. O que nos levou a fazer a gestão da nossa terra foi a diminuição das pessoas, a invasão dos madeireiros e a perda da nossa cultura. Hoje nós somos 1.325 pessoas. Nós aprendemos que não basta apenas ter o território. Nós temos que mostrar que nós somos capazes de planejar o nosso território", relatou Almir.

Eleito a 53ª pessoa mais criativa do mundo dos negócios pela revista Fast Company, Almir Surui recebeu honrarias da Sociedade Internacional dos Direitos Humanos, discursou na ONU e é um dos Heróis da Tecnologia pelo Google, além de ter salvado sua tribo e sua floresta da extinção.

O Projeto Carbono Suruí é é o primeiro projeto de pagamento por serviços ambientais (por créditos de carbono) implantado no Brasil e o primeiro projeto indígena no mundo. Os Surui têm um banco de créditos de carbono de 365 mil toneladas, entre 2009 e 2011. "E já temos investidores interessados na compra destes créditos, mas o acordo com a empresa ainda não estão fechado e ainda é confidencial", revelou Almir.

A oficina de cinco dias reuniu 40 representantes das 35 terras indígenas do Acre. Contou com apoio da Coordinadora de las Organizaciones Indigenas de la Cuenca Amazonica (Coica), da Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (Coiab), da Associação Metareila do Povo Indígena Surui, do Grupo de Trabalho Amazônico (GTA), do Centro de Pesquisa de WoodsHole, do Instituto de Manejo e Certificação Florestal e Agrícola (Imaflora), da Assessoria Especial de Assuntos Indígenas (AEAI) e da Comissão Pró-Índio do Acre (CPI/AC).

O cenário mundial das mudanças climáticas

As mudanças climáticas que estão ocorrendo no mundo já não são novidade. O aquecimento global é alimentado pelas atividades humanas que emitem CO² no ar, e nosso estilo de vida em dissintonia com o ritmo de regeneração do planeta tem acelerado o processo de aquecimento. Como resultado disso, já podemos sentir na pele verões mais secos e prolongados, que deixam a floresta mais suscetível a incêndios. Na outra mão vemos também cheias mais irregulares, com repiquetes e alagações fora de época. Os efeitos citados não são os mais preocupantes, de acordo com um relatório divulgado na última segunda-feira pela Organização das Nações Unidas – ONU.

Segundo estimativas da ONU, até 2030 o mundo precisará de pelo menos 50% a mais de alimentos, 45% a mais de energia e 30% a mais de água. Caso essas necessidades não sejam supridas, três bilhões de pessoas serão levadas à pobreza.

A organização afirmou que o desenvolvimento sustentável praticado atualmente não é forte o suficiente e falta vontade política para que a situação melhore. "O atual modelo de desenvolvimento global é insustentável. Para alcançar a sustentabilidade, é necessária uma transformação na economia global", diz o relatório.
Fonte: Agência Notícias do Acre

06/02/2012 - 16:58
Luiz Felipe Mesquita (Assessoria IMC)